terça-feira, 4 de novembro de 2014

1.2- O sistema educativo na (ou da) sociedade do conhecimento

Todas as mudanças que se operaram na sociedade da última metade do século XX, trouxeram muitas questões e reflexões  para os sistemas educativos e para a sua dinâmica.
Os sistemas educativos nascem da articulação entre as decisões ao nível dos macrossistemas, mesossistemas e microssistemas. São fruto da evolução de uma sociedade, que lhes confere legitimidade e razão de existir, e são ao mesmo tempo condição estruturante para o seu desenvolvimento e para o seu futuro. Por isso, todas estas alterações que advém com a sociedade do conhecimento trazem muitas questões acerca de qual o papel dos sistemas educativos nesta dinâmica social.

A escola não é indiferente ao que se passa à sua volta, aliás ela é um microcosmos onde chegam todas as situações da sociedade e da economia, por isso se lhe exige que dê respostas cabais. Aliás, como reconhece a LBSE, «o sistema educativo responde às necessidades resultantes da realidade social» (Art.2º,4.).

Nesta sociedade do conhecimento, a escola e o sistema educativo debate-se com o facto de que a escola não é a única instituição detentora do saber. Por outro lado, hoje, não se pode ter só em mente a massificação da escolarização mas há que pensar em ensino durante a vida toda e pensar na formação ao longo da vida. A natureza da educação é hoje de natureza qualitativa e não de quantidade como era no início do século XX, quando a preocupação era alfabetizar a população.

O sistema educativo deve responder às necessidades resultantes da sociedade e por isso deve estar atento ao seu mundo exterior e atualizar-se. É à luz disto que compreendemos, por exemplo, a entrada na escola das TIC como disciplina e área transversal do currículo e da educação para a cidadania como área curricular transversal a todo o currículo. 


O sistema educativo é entendido como «o conjunto de meios pelo qual se concretiza o direito à educação, que se exprime pela garantia de uma permanente ação formativa orientada para favorecer o desenvolvimento global da personalidade, o progresso social e a democratização da sociedade» (artº1º da Lei 46/86) de modo a formar pessoas e cidadãos «livres, responsáveis, autónomos e solidários» (art.2º da Lei46/86).

A necessidade de formar estes cidadãos prende-se com o facto de que a educação a ministrar por estes sistemas educativos ter de dotar os indivíduos de conhecimentos básicos necessários para se desenvolverem de modo pleno e harmonioso e de os dotar de competências e de meios para que cada um possa modelar a sua vida e participar na evolução da sociedade.




A responsabilidade de cada cidadão é grande mas a do Estado também, pois espera-se dele que, através dos seu sistema educativo, seja capaz de formar pessoas em todas as suas dimensões de modo a proporcionar o seu pleno desenvolvimento e que seja capaz de fazer dessas pessoas também cidadãos que saibam viver  nesse Estado ou noutro qualquer. Cidadãos do mundo capazes de reconhecer que, nesta sociedade da informação e do conhecimento, a Terra é  uma aldeia global em que todos somos seus membros e somos iguais apesar de diferentes.



Para cumprir esta função e desiderato, o Estado tem a  responsabilidade de proporcionar a todos os seus cidadãos o acesso à informação e dotá-los de competências para saberem ter acesso e desfrutar dessa informação de modo a que eles próprios possam ser criadores de conhecimento. Quanto mais o Estado souber investir na criação de igualdade de oportunidades de acesso à informação para outros mais estará a investir na sua riqueza e progresso. Como alerta Dávila Calle e Da Silva (2008):
«os países e em geral, as organizações melhor sucedida, são aquelas que inovam tanto no âmbito social quanto no âmbito económico, as inovações são criadas a partir das interações sociais, quando o conhecimento apropriado pelos agentes individuais interage num domínio de conhecimento específico» (p.10).

À luz desta nova exigência que se coloca aos sistemas educativos, surge no relatório de Jacques Delors (“Educação, um tesouro a descobrir”, 1996) a necessidade de criar um ciclo de estudos que constituam a escolaridade obrigatória de modo a proporcionar a todos condições básicas para o seu desenvolvimento humano – desenvolvimento como pessoas, indivíduos e para contribuírem para a sociedade, sabendo integrar-se nela e dar o seu contributo válido como cidadão ativo pleno de direitos e de deveres.
Esta educação básica apoia-se em 4 pilares:

Aprender a conhecer – construção de um repertório de conhecimentos, e dos instrumentos que levam ao conhecimento. Pretende-se que o aluno aprenda a compreender a realidade, para que possa viver como pessoa que é, para se comunicar e para desenvolver capacidades profissionais. Espera-se estimular o aluno para o gosto e vontade/desejo de aprender.

Aprender a fazer- adquirir uma formação que lhe permita saber aplicar na prática os conhecimentos teóricos. É importante saber comunicar através de diferentes linguagens, assim como interpretar e selecionar informação de modo a sabê-la transformar em conhecimento.

Aprender a ser- uma aprendizagem que leve ao desenvolvimento pleno, harmonioso e holístico da pessoa, sabendo que esta compreende a dimensão física, social e espiritual.

Aprender a viver juntos- aprendizagem de atitudes e dos valores necessários para se viver em comunidade com outras pessoas diferentes de nós mas iguais a nós. Levar à criação uma consciência e de ações contra o preconceito e as rivalidades diárias que se apresentam no desafio de viver.




Estes 4 pilares devem levar o futuro cidadão a desenvolver a capacidade de raciocinar e de mobilizar conhecimentos, sabendo-o ligar a outras áreas e a outras lógicas, de modo a saber agir em sociedade.

Também, o sistema educativo reconhece esta necessidade com a criação da escolaridade obrigatória no DL 85/2009.

Bibliografia:
Lei de Bases do Sistema Educativo - Lei 46/86 de 14 de outubro
Delors, (1996) Learning: The Treasure Within. Report to UNESCO of the International Commission on Education - XXI Century. Paris: PUF In http://www.see-educo op.net/education_in/pdf/15_62.pdf

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